segunda-feira, 7 de maio de 2012

Quais os tipos de Codificação em Análise Qualitativa?




O cenário:

Já temos algumas entrevistas feitas, já temos esse material transcrito (ufff..!),  já instalámos o NVivo e temos uma tarde inteirinha pela frente para finalmente começarmos a fase da análise de dados.

Está tudo pronto.

E agora? Por onde é que começo a codificação? E como?

Como transformar uma amálgama caótica e verborreica de significados e conteúdos...



 numa teoria com pés e cabeça ou num set de resultados claros e objectivos?



Uma boa codificação contribui para que isso se faça sem dores (vá..sem dores de maior). Cá para mim, cerca de 80% do sucesso da análise tem a ver com a qualidade e a eficácia da codificação.

Em termos básicos, existem 3 tipos de codificação em análise qualitativa:

Codificação Descritiva:

Pode ser informação e atributos sobre o sujeito (individuo, casal, grupo, etc). Por exemplo: A frase "Eu tenho um defeito, nunca me consigo chatear com ninguém", pode ser codificada de forma descritiva, nas seguintes categorias: "Participante 3"; "Mulheres", "Idade 18-25"; "Lisboa".
Trata-se de identificar pedaço de texto com os elementos sociodemográficos que nos interessam (só vale a pena pôr aqui aquilo que se vai usar).

Esta codificação é sem dúvida a mais chata de todas (mesmo!) mas irá, numa fase mais avançada da análise, acabar por ser uma das mais úteis. Esta é a codificação que nos permite fazer perguntas aos dados:

- Será que mulheres da minha amostra referem-se mais aos factores relacionais do que os homens?
- Será que os participantes que estão desempregados mostram mais indicadores de depressão do que os que têm emprego?
- Será que os homens da região Norte referem mais factores familiares do que os do Sul?

Codificação Tópica: 

Que tópicos ou conteúdos estão a ser discutidos nesta passagem? É sobre quê? Fala de quê? A frase "Eu tenho um defeito, nunca me consigo chatear com ninguém", pode ser codificada de forma tópica, nas seguintes categorias: "vida profissional"; "relações", "bom-ambiente laboral". Trata-se de identificar um pedaço de texto com as categorias ou temas (ou nodes) mais práticos e mais salientes no texto. Podem ser temas mais ou menos abstractos. Normalmente diz também respeito a fases da entrevista, a perguntas específicas ou a temas centrais do projecto de investigação.

Mas esta fase tende a também c-h-a-t-a. Podes seguir este truque, comigo funciona bem:

"Se não consegues tornar o processo"automático, protege o teu projecto contra o tédio....combina a codificação tópica com a codificação analítica. Continua a revisitar o tópico
(p101, Richards)

(mais cuidado...continuam a ser 2 tipos diferentes de codificação...convém ter isso bem presente antes de arriscar fazer isto, senão acabamos com uma salada de frutas em vez de um bolo de camadas com alguma lógica. )


Codificação Analítica:

Que temas e ideias emergem daqui? Porque é que isto é interessante?  Porque é que eles disseram isto?Esta é uma fase mais avançada da análise, o seu verdadeiro cerne. A parte divertida! A parte para P-E-N-S-A-R ! É neste que podemos ver emergir (ou fazer emergir) temas mais complexos e processos. Requer interpretação e reflexão sobre significados. A frase "Eu tenho um defeito, nunca me consigo chatear com ninguém", poderia ser codificada de forma analítica, nas seguintes categorias: "Manutenção individual das relações"; "É proibido zangar"; "Autoria relacional". Pode-se chegar a estas categorias analíticas através da exploração da relação entre várias codificações tópicas e descritivas ou relacionando com modelos teóricos (excepto na grounded theory, onde é suposto fazer uma análise "limpa" de teorias e modelos prévio -  mas isto é uma questão muito polémica que terá que ficar para outro post)

Divirtam-se!

Post baseado em:
- Richards (2009) Handling Qualitative Data
- Straus & Corbin (1998) Basics of Qualitative Research

Imagens: quadros de Martina Nehrling

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