sexta-feira, 15 de junho de 2012

Parte II: Estratégias de métodos mistos




Depois de ter resumido aqui  os objectivos de três estratégias de métodos mistos e a sua lógica subjacente - lógica retória, paralela ou integrativa - descrevo agora as outras três estratégias, sugeridas por Mason (2006).

4. Objectivo: Misturar métodos para atingir uma medição precisa através da triangulação. 


Já aqui falámos das armadilhas inerentes à conceptualização da triangulação como uma ferramenta para garantir a validade (tanto aqui como aqui). O uso de diferentes métodos mistos para melhorar, testar ou validar um fenómeno, com o argumento da lógica corroborativa, é uma aproximação redutora e simplista da versão mais integrativa descrita anteriormente, no ponto 3. A ênfase na precisão da medição não se enquadra facilmente na natureza complexa e processual das muitas formas de ciência social e a ligação corroborativa entre diferentes métodos raramente é linear. Veredicto O risco subjacente ao uso desta estratégia é dar uma (falsa) aparência mais científica. É difícil de fazer (bem) e tem benefícios limitados, pois parte de uma lógica conservadora que não é adequada para explicar fenómenos sociais complexos. 

5. Objectivo: Misturar métodos para perguntar questões distintas mas intersectadas


Aqui chegamos à cereja no topo do bolo. Seria uma pena se concluíssemos que misturar métodos é demasiado problemático porque a lógica paralela não é satisfatória e porque uma lógica verdadeiramente corroborativa é questionável. Mas a lógica multidimensional inerente à estratégia da intersecção permite até que o campo da indagação e o próprio fenómeno em questão sejam redefinidos no processo de investigação. Exemplo: Numa investigação sobre vida emocional e vida pessoal, em vez de deixar temas como "eu interior" para os psicólogos, "construção social das emoções" para os sociólogos e "regras e rituais de expressão das emoções" para os antropólogos - não seria muito mais interessante (e excitante!) utilizar as diferentes questões e métodos para as explorar de forma colectiva (e não integrada)? Envolveria reconhecer que no mundo social os fenómenos são multi-dimensionais, e que estas dimensões muitas vezes existem de uma forma desarrumada e tensa, em vez de estarem todas bonitas e arrumadinhas umas com as outras, como camadas bem comportadas de um bolo de noiva.


O argumento é que diferentes métodos e abordagens têm forças distintas que, se potencializadas, podem ajudar-nos a compreender a multi-dimensionalidade e a complexidade social.  Há um sentido de intersecção nesta abordagem, que envolve uma tensão criativa e um diálogo entre os diferentes métodos e abordagens. Em vez de se oferecer uma explicação integrada ou várias explicações paralelas, é ilustrada uma explicação multi-nodal e dialógica baseada na dinâmica da relação entre mais do que uma 'forma de ver as coisas'. É, verdadeiramente, 'pensar fora da caixa'.   Veredicto: Requer, da parte d@ investigad@r, reflexividade, compromisso, capacidade de crítica e vontade de empurrar barreiras . É muito desafiante porque confronta algumas fronteiras de conhecimento, epistemologia e prática das ciências sociais. É muito difícil de fazer, mas promete significativamente aumentar e melhorar a explicação de fenómenos em ciência social. 

6. Objectivo: Misturar métodos de forma oportunista.  


Nesta abordagem, o investigador não tem controlo sobre o desenho de investigação, nem sobre o processo e forma da análise de dados. Esta abordagem não tem lógica intrínseca, não é por isso que pode ter menos resultados surpreendentes. O acaso é tanto inimigo como amigo da investigação, como sabemos. Veredicto: Não sendo propriamente uma estratégia, porque não tem uma lógica intrínseca, esta abordagem pode oferecer oportunidades interessantes

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Novo recurso: Online QDA


Graham Gibbs (University of Huddersfield) e Nigel Fielding (University of Surrey), são dois dos meus autores favoritos em termos de investigação qualitativa e em conjunto outros colegas criaram o site OnlineQDA - Learning Qualitative Analysis on the Web (em inglês).



É um óptimo recurso, completo e complexo o suficiente sem ser críptico. Tem um glossário que cobre os conceitos mais importantes, tutoriais sobre "como fazer" recolhas e análises várias e uma óptima biblioteca de referências conforme o tema. 



Especial atenção para a parte da codificação. Sei que há por aí muita confusão em relação às estratégias da codificação e é das coisas que mais pode estragar ou potenciar uma análise de dados de qualidade. 

Mergulhem à vontade!