terça-feira, 17 de abril de 2012

Quantas entrevistas é preciso ter num estudo qualitativo?


A palavra chave é - para não variar - depende. 


É uma pergunta muito importante. Os estudantes e investigadores têm que começar a encarar de frente as questões epistemológicas sobre as quais terão de tomar sérias decisões. Com consequências.

Baker e Edwards perguntaram a investigadores com diferentes experiências em investigação qualitativa qual o número de entrevistas recomendado e, especialmente, quais a considerações a ter em conta quando se tomam essa decisões:

Haverá alguma fórmula para calcular quantas entrevistas são necessárias num estudo qualitativo? Será que a questão "Quantas?" é uma questão adequada para a investigação qualitativa? Será que um X número de entrevistas é adequado em termos epistemológicos (depende depende da tua perspectiva teórica, disciplina académica ou população em estudo) ou pragmáticos (considerando o tempo, os recursos disponíveis, os supervisores, e os comités de ética)?

RaginWolcott , especialistas que contribuíram para este artigo, aconselham os investigadores a tomarem a sua decisão de acordo com a saturação, ou seja, quando um investigador qualitativo começa a perceber que os dados são tão repetitivos que já não surge nada novo ou relevante, é tempo de parar.  Estes autores consideram que a saturação é um tema central à amostragem qualitativa. No entanto, Alan Bryman adverte que investigar até à saturação é um desafio por vezes compliado já que implica a fazer a amostragem, recolha de dados e a análise de dados de forma conjunta e simultânea em vez de sequencial (primeiro amostragem, depois recolha, depois análise). Esta abordagem não linear à investigação - presente por exemplo na Grounded Theory - tem muitas vantagens, mas por vezes os  investigadores precisam de decidir previamente o número de entrevistas a realizar.

Nesta perspectiva, Adler e Adler aconselham um número de referência, entre 16 e 60 entrevistas (sendo 30 entrevistas a média), conforme o objectivo da investigação e Ragin sugere 20 entrevistas para um mestrado, e 50 para um doutoramento.

E os "casos únicos"? PasseriniSandino afirmam que uma só entrevista qualitativa pode ser válida pela riqueza e complexidade da sua descrição subjectiva. Brannen  também considera que um caso único pode ser suficiente e nem ser passível de comparação, enquanto Becker afirma que apenas são necessárias algumas entrevistas para demonstrar que que um fenómeno é mais complexo do que se pensava.

É Jennifer Mason (University of Manchester) que nos indica as perguntas chave essenciais que todos os investigadores devem fazer de forma a decidir cuidadosa e criticamente quantas entrevistas fazer num estudo qualitativo - tendo sempre em atenção as características específicas do projecto em curso.

Eis a 7 questões-chave: 

1) Onde estás a tentar chegar?
Que tipos de fenómenos te interessam? Quais as tuas questões de investigação? Por vezes não há nenhum número que "chegue" para responder às nossas questões de investigação e outras metodologias, para além da entrevista semi-estruturada, por exemplo, terão de ser equacionadas.

2) Será que "mais" é sempre "melhor"?
O que muda se fizeres mais entrevistas? O número depende da lógica através da qual cada entrevista acrescenta conhecimento ou compreensão ao fenómeno em estudo. Tal fenómeno requer que consideres diferentes perspectivas? A compreensão desse fenómeno depende da tua exploração de como esses processo operam de maneira diferentes conforme as circunstancias? Pretendes estudar o fenómeno "a fundo" ou ver como é que ele muda ao longo do tempo?

3) Como é que ter mais ou menos entrevistas influencia a qualidade ou a força da explicação que irás oferecer? Terá influência no tipo de implicações que irás sugerir?
O conteúdos das entrevista, a qualidade dos dados e as tuas competências na sua análise são determinantes para decisão de quantas entrevistas necessitas para um estudo qualitativo. Poderás ter 500 entrevistas de dados muitos superficiais ou um análise incisiva de apenas 2 entrevistas. É sobretudo necessário pensar na linha de argumentação a fazer quanto à qualidade da investigação produzida. Se o argumento vai no sentido de que a força da explicação e a qualidade são decorrentes da representatividade da amostra e dos padrões das respostas encontradas, será necessário usar uma lógica estatística para tomar essa decisão - de acordo com uma abordagem mais nomotética. No entanto, na investigação qualitativa, é muito mais provável a construção de uma explicação profunda baseada na forma como os processos decorrem sob determinados contextos e circunstâncias sociais - uma abordagem ideográfica. Neste caso, predomina a utilização de uma lógica mais interpretativa e investigativa de forma a permitir a construção de uma narrativa de análise convincente baseada no argumento de que os processos foram explorados considerando a sua complexidade.


4) Que recursos estão disponíveis? Quanto tempo? Qual a escala do projecto? Quais as expectativas ou imposições dos financiadores?
Temos de ser realistas: a investigação qualitativa (seja baseada em entrevistas ao não) e análise qualitativa são demoradas e dada a exigência na qualidade da interpretação, a disponibilidade de tempo é um factor essencial. Em geral, é melhor ter um pequeno número de entrevistas, analisadas criativamente e de forma interpretativa, do que um grande número de entrevistas em que o/a investigador/a não teve tempo para uma análise adequada.





Referências principais:


Baker, Sarah Elsie and Edwards, Rosalind (2012) How many qualitative interviews is enough. Discussion Paper. . National Centre for Research Methods (NCRM). Retirado a 17.04.2012 de http://eprints.ncrm.ac.uk/2273/

Imagem retirada de RWConnect

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Introdução à Análise de Conteúdo



Será que tudo o que é análise de conteúdos é "Análise de Conteúdo"?




A análise de conteúdo é um técnica, enquadrada numa estratégia metodológica, que visa a descrição sistemática das principais categorias encontradas num dado conteúdo (seja ele um texto ou uma imagem, por exemplo) e a sua quantificação, possibilitando assim a sua comparação.Aqui fica uma introdução geral à análise de conteúdo, desenvolvida pelo professor Albino Ferreira, em português, que responde de forma muito sucinta às seguintes questões essenciais:1) Quais os tipos de análise de conteúdo?2) Que unidades de análise utilizar?3) Quais os processos envolvidos?4) Fidelidade e Validade na análise de conteúdo.

análise de conteúdo
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Introdução ao NVivo 8




Um dos softwares mais utilizados para análise de dados qualitativos (transcrições de entrevistas ou focus group, notícias ou imagens) é o NVivo, desenvolvido pela QSR International. É um software caro, mas que é disponibilizado de forma gratuita por grande parte das Faculdades portuguesas, para uso dos seus estudantes pós-graduados. Como todos os softwares, não é infalível (e o NVivo é até conhecido por crashar com alguma frequência - salvem sempre os vossos ficheiros com um nome diferente!!), mas é um programa relativamente  fácil de usar e que se adequa a várias abordagens à análise de dados (análise de conteúdo tradicional, análise narrativa, análise temática e grounded theory, por exemplo). Fica aqui uma introdução, desenvolvida pelo professor Albino Ferreira, em português, que ilustra os seguintes pontos essenciais:1) Criar um projecto2) Recolha de dados3) Criar as categorias de codificação4) Procedimentos básicos de codificação
IntroduçãoNVivo8
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Divirtam-se!